Transformação social das organizações

Dada a atual tendência de conscientização e a crescente influência da geração Z em áreas como ética e sustentabilidade, empresas em breve enfrentarão desafios significativos se não abordarem efetivamente questões sociais como equidade de gênero, combate à discriminação racial e étnica, condições de trabalho saudáveis, práticas sustentáveis entre outras.

Favela não é carência, favela é potência

Por Dado Salem
Fevereiro 2024




Nas últimas décadas, o termo "favela" tem sido frequentemente associado à pobreza, criminalidade e falta de infraestrutura básica. No entanto, esta visão simplista e estigmatizante não reflete a realidade complexa e multifacetada dessas comunidades.

Ao contrário do que muitos acreditam, as favelas são locais de grande potencial e resiliência. Essas áreas são habitadas por pessoas que, mesmo enfrentando desafios significativos, encontram maneiras criativas e inovadoras de sobreviver e prosperar.

Um dos aspectos mais impressionantes das favelas é a sua comunidade. Nestas áreas, as pessoas vivem em uma proximidade incomum, compartilhando espaços e experiências diárias. Essa proximidade cria uma forte rede de apoio, onde os moradores se ajudam mutuamente em tempos de necessidade. Essa solidariedade é uma prova da resiliência das favelas.

Além disso, as favelas são frequentemente centros de atividade econômica. Essas comunidades abrigam pequenos negócios e empreendimentos locais que oferecem produtos e serviços essenciais aos moradores. Esses negócios fornecem uma fonte de renda crucial para as famílias locais e ajudam a impulsionar a economia da área.

O que é Inteligência Coletiva e como fazê-la funcionar?

Por Dado Salem



Você já ouviu falar em Inteligência Coletiva? Inteligência Coletiva é a capacidade que um grupo numeroso de pessoas tem de tomar decisões melhores que um líder sozinho ou que um grupo de experts fariam. Isso ocorre porque indivíduos e grupos homogêneos, mesmo com alto QI, tenham viéses cognitivos difíceis de romper e que muitas vezes podem ser contraproducentes. Inteligência Coletiva significa que a colaboração, a diversidade e tomada de decisões descentralizadas tendem a gerar ideias inovadoras, resolver problemas complexos e impulsionar o progresso em empresas, organizações e na sociedade.

Para fazer a Inteligência Coletiva funcionar, vários elementos-chave entram em jogo. Em primeiro lugar, requer um grupo diverso de pessoas com uma variedade de formações, origens, perspectivas e conhecimentos. Essa diversidade de experiências garante um leque amplo de insights e ideias, fomentando uma Inteligência Coletiva mais poderosa.

O Centro da Zona Sul

Por Dado Salem
Setembro 2023



Neste sábado fiz um programa incrível com um grupo de empresários e suas famílias. Tinha até criança de colo. Participamos de uma experiência de um dia no Instituto Reação, projeto com quem venho colaborando.

Começamos no tatame com  uma aula de humildade: aprender a cair - orientadas por faixas pretas, crias da Rocinha e do Reação, que já caíram muito na vida. Essa atividade é instrutiva tanto pra quem está ficando velho, como eu, quanto para jovens que ainda vão levar um monte de rasteiras da vida. Percebi nesses mestres uma integridade de caráter como raramente se encontra por aí.

Pegamos então as vans e subimos até o topo do morro. Com um comércio atrás do outro e um sobe e desce constante de motos e vans, a Estrada da Gavea é mais ativa que a Avenida Rio Branco. Uma energia vibrante, empreendedora, colaborativa, amistosa, suja e caótica. Dessa efervescência vem a alegria e a criatividade que são a marca da alma brasileira. É o Brasil na veia. 

Comunicação não Violenta

Julho 2023 

Roxy Manning, psicóloga, imigrante afro-caribenha nos Estados Unidos, é uma grande mestra e uma das maiores especialistas em Comunicação Não Violenta na atualidade. Neste vídeo ela faz um resumo sobre a CNV, técnica que pode ajudar pessoas a lidarem com questões sensíveis tanto na esfera pessoal, quanto familiar, organizacional e coletiva.



A importância de um clima de trabalho saudável

Por Dado Salem
Maio 2023




O investimento em um ambiente saudável e motivador é uma estratégia fundamental para o sucesso a longo prazo de uma empresa. 


Relações Interpessoais

As relações entre as pessoas desempenham um papel crucial na construção de um clima de trabalho positivo. A cooperação entre colegas de trabalho é fundamental para promover a colaboração e a produtividade. Quando os membros da equipe se ajudam mutuamente e compartilham conhecimentos, é possível alcançar melhores resultados.

No artigo "Collective Intelligence and Group Performance", publicado por Woolley, Chabris, Pentland, Hashmi e Malone na revista Science em 2010, os pesquisadores analisaram como a inteligência coletiva afeta o desempenho do grupo em tarefas diversas, como resolução de problemas, tomada de decisões e planejamento estratégico. Eles descobriram que grupos nos quais os membros colaboram ativamente e compartilham conhecimentos têm um desempenho significativamente melhor do que grupos nos quais a colaboração é limitada. Além disso, a diversidade de conhecimentos e perspectivas entre os membros da equipe também foi identificada como um fator importante para aumentar a inteligência coletiva do grupo. Outra boa leitura sobre esse tema é "The Wisdom of Crowds" de James Surowiecki.

A Inteligência Artificial haqueou o sistema operacional da humanidade

Yuval Noah Harari argues that AI has hacked the operating system of human civilisation
Por Yuval Harari
The Economist
Abril 2023

Muitos artigos foram publicados sobre os impactos da Inteligência Artificial após o lançamento do Chat GPT, mas se você quiser ler apenas um, leia esse. 



Years of artificial intelligence (AI) have haunted humanity since the very beginning of the computer age. Hitherto these fears focused on machines using physical means to kill, enslave or replace people. But over the past couple of years new ai tools have emerged that threaten the survival of human civilisation from an unexpected direction. AI has gained some remarkable abilities to manipulate and generate language, whether with words, sounds or images. AI has thereby hacked the operating system of our civilisation.

Language is the stuff almost all human culture is made of. Human rights, for example, aren’t inscribed in our dna. Rather, they are cultural artefacts we created by telling stories and writing laws. Gods aren’t physical realities. Rather, they are cultural artefacts we created by inventing myths and writing scriptures.

Money, too, is a cultural artefact. Banknotes are just colourful pieces of paper, and at present more than 90% of money is not even banknotes—it is just digital information in computers. What gives money value is the stories that bankers, finance ministers and cryptocurrency gurus tell us about it. Sam Bankman-Fried, Elizabeth Holmes and Bernie Madoff were not particularly good at creating real value, but they were all extremely capable storytellers.

Inovação - necessidade, luz e sombra

Por Dado Salem
Abril 2023


É hora de termos um olhar mais equilibrado para o avanço tecnológico.





Ao longo da história, enfrentamos diversos desafios e obstáculos que nos obrigaram a inovar e adaptar para sobreviver. Desde a invenção da roda até o desenvolvimento da internet, a inovação foi impulsionada principalmente pela necessidade. O famoso provérbio, "A necessidade é a mãe da inovação" foi comprovado várias vezes.

Um dos exemplos mais conhecidos é o desenvolvimento da imprensa por Gutenberg no século XV. Na época, os livros eram manuscritos e, portanto, raros e caros. Gutenberg viu a necessidade de uma maneira mais rápida e eficiente de produzir livros e, assim, desenvolveu a imprensa. Essa inovação revolucionou o mundo editorial e tornou os livros mais acessíveis ao público em geral, levando a um aumento significativo nos índices de alfabetização e na disseminação do conhecimento.

Outro exemplo de necessidade impulsionando a inovação é o desenvolvimento da lâmpada por Thomas Edison no final do século XIX. Edison viu a necessidade de uma fonte confiável e duradoura de luz artificial, pois velas e lâmpadas a gás não eram apenas ineficientes, mas também perigosas. Ele passou anos experimentando diferentes materiais até encontrar um filamento adequado que pudesse produzir uma luz constante sem queimar rapidamente. A invenção da lâmpada elétrica não apenas revolucionou a maneira como vivemos, mas também abriu caminho para muitas outras inovações no campo da eletrônica.

Decisões de carreira em tempos voláteis e incertos

 Por Dado Salem

Abril 2023

O que vale mais a pena, seguir uma carreira que paga bem ou uma que esteja mais alinhada com seus valores e interesses? E o que fazer em tempos voláteis e incertos?



A Psicologia Econômica é um campo interdisciplinar que explora a interseção entre Economia e Psicologia e examina, por exemplo, o desenvolvimento de carreira, particularmente em termos de como tomamos decisões sobre nossas carreiras e como essas decisões afetam resultados econômicos e satisfação.

Um dos estudos mais recentes nesse campo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Wisconsin e publicado no Journal of Applied Psychology - "Making a Good Decision: The Relationship Between Decision Quality, Career Decision Self-Efficacy, and Postdecisional Affective States" por Amber N. Gaffney, Leigh Plunkett Tost, e Kristin D. Neff. O estudo examinou a relação entre a tomada de decisões de carreira e os resultados econômicos, observando especificamente os fatores que influenciam as decisões dos indivíduos de seguir carreiras em áreas com altos salários versus áreas que se alinham com seus interesses e valores pessoais.

O estudo descobriu que os indivíduos que priorizam seus interesses e valores pessoais ao tomar decisões de carreira tendem a ter maior satisfação no trabalho e maior sucesso na carreira a longo prazo. No entanto, aqueles que priorizam ganhar um salário alto no início de suas carreiras podem experimentar um aumento de ganhos de curto prazo, mas são mais propensos a se sentiram insatisfeitos com o trabalho ao longo do tempo.

Como se manter feliz e promover a transformação quando tudo à nossa volta parece que vai mal?

Motivos não faltam para um pessimista afirmar sua convicção. Guerra nas bordas da Europa com ameaça de armas nucleares, secas e dilúvios cada vez mais perto, intensos e constantes, IPCC dizendo que perdemos a oportunidade de evitar a catástrofe climática, bancos suíços e americanos quebrando, novas tecnologias ameaçando empregos e concentrando cada vez mais a renda, sensação generalizada de estar desatualizado e ficando para trás, governos que não tem capacidade de solucionar os problemas atuais, índice de suicídio crescendo... parece que estamos entrando num período de trevas. Mas será que vale a pena pensar dessa forma? 

O jornalista Charlie Brinkhurst-Cuff entrevistou um psiquiatra especializado em suicídios, uma médica de um hospital para crianças com doenças terminais, uma educadora e ativista ambiental em Uganda, país onde as mudanças climáticas mais mostraram seus efeitos até agora, entre outras. Essas pessoas contam como se mantem felizes e quanto ter uma perspectiva positiva melhora a própria vida e os resultados de seus trabalhos.




Do You Have to Be an Optimist to Work Toward a Better World?
By Charlie Brinkhurst-Cuff
NYTimes
Fevereiro 2023


“I’m afraid that the world is entering a dark age,” said Dr. Igor Galynker, a psychiatrist who specializes in suicide research and intervention. But, he added: “On an individual level, helping people deal with this, and finding ways to live with this or fight this? I’m very optimistic.”

Dr. Galynker’s outlook expresses the paradox for professionals working on the front lines of different crises — whether it’s suicide prevention, climate science, hospice care for children or even imagining a dystopian future in literature — that demand you contend with the worst possible outcomes.

If you are working to make the world better, do you have to be an optimist? Or does pessimism better equip you to address the challenges the future presents?

Ser Anti-ESG pode custar caro.

Se você fosse um fabricante de velas quando inventaram a luz elétrica, sairia para tentar quebrar as lâmpadas ou procuraria fazer seu negócio evoluir? Pois é o que alguns empresários estão apostando. Ir contra o ESG a partir de agora é como sair quebrando lâmpadas. Esse artigo da The Economist ilumina a questão e alerta: essa aposta pode custar caro.







The anti-ESG industry is taking investors for a ride - Making a stand comes at a considerable price
The Economist
Março 2023


Until recently, there were two iron laws in investing. One, popularised by Milton Friedman, a Nobel-prizewinning economist, posited that a company’s responsibility above all else was to provide returns to its shareholders. The second, promoted by Jack Bogle, founder of Vanguard, an investment firm, held that asset-management fees must be driven to the lowest level possible.

Quase 30% da força de trabalho norteamericana pediu demissão em 2022

Por World Economic Forum
Janeiro 2023

A força de trabalho norteamericana soma 163,5 milhões de pessoas, dessas, 47 milhões pediram demissão no ano passado. O motivo dessa onda mostra que uma mudança cultural está em curso.





If you’ve quit your job in the last year or two, then you’re part of what’s become known as the Great Resignation.

It’s the term coined in 2021 to describe the record number of people in some advanced economies who have left their jobs since the onset of the COVID-19 pandemic.

And this mass shake-up of the workforce is continuing, according to the latest data from the US Bureau of Labor Statistics (BLS). Around 4 million Americans quit their jobs in October 2022, which is 2.6% of the workforce, it says. This is similar to recent months, after hitting a record 4.5 million workers in November 2021.

The hospitality and leisure industry had the highest number of people leaving their jobs among the major industries in October 2022, at 5.5%, the BLS says. The quit rate in the transportation, warehousing and utilities industry was 2.8%, and in the construction industry it rose to 2.4% from 2% a month earlier.

Bem-vinda nova geração

por Dado Salem
Janeiro 2023


No mundo da tecnologia se diz que as mudanças vem primeiro com os inovadores e visionários, em seguida os pragmáticos percebem e se adaptam, depois, sempre um pouco atrasados, estão os conservadores e por último, nadando contra a correnteza, os céticos. Uma grande transição de poder está acontecendo agora. Após a leitura desse breve artigo me diga, em qual dessas posições você se vê?  




Grandes eventos tem o poder de moldar gerações. A Pandemia foi para os jovens o que as duas grandes guerras do século XX e bomba atômica significaram para nossos avós e bisavós. Foi o que a crise do petróleo, a queda das torres gêmeas e a crise de 2008 representaram para a nós e nossos pais. A parada e o “restart” da economia decorrente da Covid-19 teve esse nível de impacto para a Geração Z (nascida entre 1995 e 2010). Ficou claro para eles como é viver num mundo calmo e sem poluição. Foi possível ver o céu azul em Beijing, o ar de Londres ficou limpo, foram vistos 33% mais esquilos, 66% mais abelhas, 97% mais borboletas e segundo geólogos, a terra tremeu menos (1). Deu para perceber, mensurar e questionar o impacto do nosso estilo de vida no planeta. 

Como fazer uma mudança de carreira?

Por Dado Salem
Dezembro 2022



Até o início dos anos 1990 quem mudava de carreira, ou mesmo de empresa, era visto como uma pessoa problemática, desajustada. Depois da revolução da Internet e da Sociedade em Rede, dos trabalhos flexíveis e globalizados, as mudanças de carreira são cada vez mais comuns. Quem não muda ao menos de empresa algumas vezes, é considerado(a) engessado(a), cabeça dura, sem capacidade de adaptação às mudanças, etc. Se você está pensando em fazer uma transição de carreira, que é uma coisa mais complexa, aqui vão algumas dicas.

Toda mudança começa com um fim, com a saída de uma situação conhecida, por isso tendemos a ficar com medo, perdidos, com sentimento de vazio... mas depois uma coisa nova inicia.

A primeira coisa a fazer é identificar suas habilidades e interesses. Quais são seus talentos e o que você gosta de fazer? O que você mais valoriza no seu trabalho e o que o(a) motiva? Existem setores ou atividades que se alinham com suas habilidades e paixões?

Depois de ter uma ideia geral do tipo de trabalho que você gostaria de fazer, a próxima etapa é começar a aprender mais sobre ele ou sobre o setor específico em que está interessado(a). Você pode conversar com pessoas que trabalham na área, perguntar como é o dia a dia delas, o que há de bom e de ruim, pedir conselhos sobre o caminho a seguir, os conhecimentos e pré requisitos como formação ou experiência. Outra maneira é fazer uma pesquisa online, isso pode dar uma visão geral dessa carreira. Os anúncios de empregos, por exemplo, mostram o que os empregadores procuram nos candidatos. Isso pode ajudar a entender as habilidades, qualificações e experiências específicas que normalmente são necessárias para esse trabalho.

Como encontrar um trabalho que você ama?

Dezembro 2022
Por Chat-GPT (com pequenos ajustes)




Encontrar um trabalho que você ama é uma jornada desafiadora e pessoal. Aqui vão alguns passos que você pode seguir e irão ajudá-lo(a) a encontrar sua paixão e o trabalho dos seus sonhos:

1. Reflita sobre seus interesses, valores e pontos fortes: reserve um tempo para pensar sobre o que você gosta, o que é importante para você e que você faz bem. Considere as atividades que gosta fora do trabalho e quaisquer hobbies ou interesses que tenha.

2. Pesquise diferentes carreiras: Depois de ter uma ideia melhor de seus interesses e pontos fortes, comece a explorar diferentes carreiras que se alinhem com eles. Procure carreiras que permitam que você use seus pontos fortes e que estejam alinhadas com seus interesses e valores.

Billionaire no More

por David Gelles 
NYTimes
Setembro 2022

Visionário fundador da Patagônia, ao invés de abrir o capital ou vender sua empresa, doou suas ações para um Trust e uma ONG com objetivo de reverter 100% do lucro para preservação do meio ambiente.

                        




A half century after founding the outdoor apparel maker Patagonia, Yvon Chouinard, the eccentric rock climber who became a reluctant billionaire with his unconventional spin on capitalism, has given the company away.

Rather than selling the company or taking it public, Mr. Chouinard, his wife and two adult children have transferred their ownership of Patagonia, valued at about $3 billion, to a specially designed trust and a nonprofit organization. They were created to preserve the company’s independence and ensure that all of its profits — some $100 million a year — are used to combat climate change and protect undeveloped land around the globe.

Profissionais rejeitam ofertas de emprego que sinalizam excesso de trabalho

‘Work Hard, Play Hard’ and More Phrases That Can Scare Away Job Applicants
por Ray A. Smith
The Wall Street Journal
Setembro 2022

À medida que o movimento da "demissão silenciosa" cresce, mais profissionais estão rejeitando ofertas de emprego que sinalizam um desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal.


When Becky Phillips, a pharmaceutical industry scientist, has looked for work, one phrase in job ads has turned her away from applying to otherwise promising-sounding opportunities: “fast-paced environment.”

“Usually fast-paced sounds like that would be fun, like you’re going to make lots of progress on projects,” Ms. Phillips, 34 years old, said. “But, I think in practice, it just means that there’s no work-life balance.”

O que é 'demissão silenciosa' e por que ela pode ser benéfica para trabalhadores e empresas

por Nilufar Ahmed
BBC Brasil
Agosto 2022



Em muitos países do mundo, tem havido um debate sobre um fenômeno chamado de "a grande demissão".

O Reino Unido registrou um aumento acentuado no número de pessoas que deixaram seus empregos em 2021, e um quinto dos trabalhadores do país ainda diz que planeja pedir demissão no próximo ano em busca de uma maior satisfação profissional e melhores salários.

Se você está infeliz no trabalho, mas deixar seu emprego não é uma opção ou não há alternativas atraentes, você pode tentar a "demissão silenciosa".

Esta tendência de simplesmente fazer o mínimo que é esperado da sua função no trabalho ganhou força no TikTok e claramente repercutiu entre os jovens. Também frustrou gestores, e alguns parecem estar preocupados com a acomodação dos funcionários.

Construindo as Empresas do Futuro - Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo

Por Dado Salem
Agosto 2022


Estamos vivendo uma grande revolução. Vemos um sistema em declínio e outro emergindo. Nessa palestra no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em julho de 2022, apresentei um apanhado histórico mostrando as principais revoluções que a humanidade passou e a que estamos vivenciando hoje. Com esse rápido exercício, relembramos de onde viemos, em que ponto estamos e percebemos com mais clareza para onde estamos indo. Apresento um quadro com os principais valores do Sociedade Industrial e da Sociedade em Rede. Isso pode trazer mais clareza para empreendedores de startups e para aqueles que administram empresas criadas com a cultura que está em declínio (e não querem ficar para trás), como deveriam estruturar suas organizações. Concluo demonstrando quanto a Comunicação e as habilidades de diálogo são fundamentais daqui em diante. 



                Cibernética, Macy Conferences, NY 1946 a 1953

Gostaria de agradecer ao IPT e ao IEL (Instituto Euvaldo Lodi) pelo convite. Estou aqui com meu querido amigo e parceiro Celso Alvim (Maestro do Monobloco) que vai conduzir depois da minha apresentação um exercício de comunicação. Eu vou sentir que atingi meu objetivo se no final da minha apresentação e do exercício junto com o Celso, vocês tiverem certeza de que a Comunicação é a coisa mais importante que vamos precisar aprender e desenvolver neste momento e daqui para frente. É a Comunicação que vai mandar e a minha palestra vai justamente mostrar por que isso está acontecendo. 

Eu nomeei essa apresentação Construindo as Empresas do Futuro, porque inovação é tudo o que estamos conversando aqui, e no subtítulo Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo, vocês vêem que as palavras Comunicação e Diálogo se repetem justamente para reforçar importância disso. Vou apresentar a vocês um Contexto, mostrar um pouco do meu entendimento sobre o que está acontecendo hoje, mas contando uma história, lá de trás, até o aumento atual. 

 

O presidente do Google falou em 2021 (matéria do The Times) que a inteligência artificial vai ter um impacto maior do que o fogo para a humanidade. Isso mostra que estamos vivendo uma grande revolução, porque sabemos a importância que o fogo teve para nós. Se uma pessoa dessa importância está falando isso, acho bom prestarmos atenção.

 

Muitos dizem que estamos vivendo a quarta Revolução Industrial. Eu acho que essa denominação não é a mais apropriada perante o tamanho da transformação que estamos passando. Eu vou explicar por quê. 

Psicologia Econômica e os Family Offices

por Dado Salem
Setembro 2018

Como lidar com a irracionalidade e aflições de clientes com ampla liquidez? O imaginário coletivo considera que o dinheiro é a solução dos nossos problemas. A experiência mostra que não é bem assim.


 


“Fui dono do meu próprio negócio por tanto tempo que, quando o vendi, foi desconcertante perceber que agora eu tinha que descobrir quem eu era. Nos meses seguintes à venda, comecei a refletir sobre o que eu queria fazer do meu futuro”. Depoimento de um ex-empresário.

Empresarios geralmente constroem a vida em torno de seus negócios, e por esse motivo costumam ficar desorientados quando vendem suas empresas. Um pedaço deles vai embora, justamente aquele que consumia boa parte de sua energia psíquica. Investimento, esforço, alegrias, aflições, vitórias e derrotas, histórias, pessoas… uma empresa é um aglomerado de emoções e a identidade do empreendedor está profundamente relacionada a ela.

Travessia para a vida adulta

Por Dado Salem
Abril 2022

Tornar-se adulto é um evento traumático e os pais tem um papel importante nesse processo.




Há coisas que são tão comuns a todos nós que podemos dizer que são universais. Uma delas é o desejo de viajar. Mais que o simples deslocamento físico, uma viagem representa a vontade do novo. De novas experiências, novos ares, novos horizontes, novos conhecimentos, novos desafios… e que no final conduzem à transformação, porque se fizermos uma verdadeira viagem, longa o suficiente, retornamos diferentes do que partimos. 

O texto mais antigo que se tem notícia, a Epopéia de Gilgamesh, apresenta justamente uma viagem. A do herói em busca da vida eterna, na Terra dos Vivos. Para chegar lá ele atravessa montanhas, florestas, mares, jardins e rios. Outro texto clássico cujo tema é a viagem é a Odisséia de Homero, que conta a longa e tumultuada jornada de Odisseu de volta para casa no final da Guerra de Tróia. Neste mesmo texto há também a viagem de seu filho Telêmaco em busca do pai, orientado por ninguém menos que Mentor, que veio dar nome à atividade de aconselhamento e no qual incorporou a deusa da sabedoria, Atená. Mentor (Atená) diz a Telêmaco que é a hora de deixar de ser criança e se tornar um homem. A viagem de Telêmaco representa, portanto, a passagem para a vida adulta.

A passagem para a vida adulta é um dos maiores desafios que enfrentamos. Na infância vivemos num mundo mágico em que as coisas são resolvidas para nós. No processo de nos tornarmos adultos, no qual precisamos prover nosso próprio sustento, arcar com as consequências de nossos atos, nos responsabilizarmos pela nossa vida, somos expulsos de uma zona de conforto. 

Tornar-se adulto é um evento traumático. Na natureza, a mãe pássaro empurra os filhotes para fora do ninho para que eles voem. Em sociedades tribais, os jovens passam por rituais em que muitas vezes têm que aguentar um sofrimento. Os Karajá, numa primeira iniciação, perfuram o lábio inferior dos jovens com a clavícula de um macaco. No Hetohoky, o maior ritual dos povos indígenas do Tocantins, as crianças são afastadas do convívio social e fazem uma viagem pela floresta onde adquirem aprendizados, para então retornarem adultas.

Inteligência e Sabedoria

por Dado Salem
março 2022


Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige tempo e demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam.



Dizem que estamos ficando mais inteligentes. Em países industrializados o QI médio da população subiu 3 pontos por década e aumentou incríveis 30 pontos no século XX(1) . Isso quer dizer que uma pessoa normal hoje seria considerada superdotada no início do século passado. E o que ganhamos coletivamente com esse avanço? Mercados transbordando de comida, água limpa encanada, pílulas que curam doenças, transportes rápidos e seguros, acesso a qualquer informação instantaneamente, uma abundância de bens materiais, maior longevidade etc. 

Ao longo do tempo nossa sociedade veio se estruturando em função da métrica da inteligência. O QI é um dos fatores que determinam onde as pessoas vão se formar, trabalhar e consequentemente, seu estilo de vida. Bill Gates foi claro numa entrevista: "o ponto chave para nós, em primeiro lugar, sempre foi contratar pessoas muito inteligentes"(2) . Adam Grant, psicólogo organizacional da Universidade de Wharton, revelou que os processos seletivos da maioria das grandes empresas são testes de QI disfarçados(3). O Google, por exemplo, não mede explicitamente as habilidades cognitivas de seus candidatos, mas quando pede para que eles resolvam oralmente os problemas propostos por um entrevistador, estão fazendo isso indiretamente. 

Mas apesar de todo esse progresso cognitivo e material, vivemos uma desigualdade crescente, uma epidemia de ansiedade e depressão, provocamos mudanças ambientais brutais que impactarão nossas vidas e principalmente as de nossos filhos e netos. Produzimos uma quantidade absurda de lixo, poluímos a terra, o ar, rios e mares, criamos armas nucleares potentes suficiente para destruir o planeta e temos líderes não só incapazes de mudar essa realidade como muitas vezes que contribuem para piorar as coisas.

Conhecimento e inteligência podem ser utilizados para o bem ou para o mal, de forma criativa ou destrutiva, e o aspecto negativo ocorre especialmente quando o foco é centrado em interesses particulares, sem observar aquilo que nos cerca, o contexto mais amplo. 

A ciência avança progressivamente por meio de um método que organiza e acumula o conhecimento ao longo do tempo de maneira que o saber atual é sempre superior ao de antigamente. O mesmo não pode ser afirmado com relação à sabedoria. Apesar de toda a ciência, não podemos dizer que somos mais sábios que pessoas que viveram há milhares de anos. Ou seja, ganhamos inteligência, conhecimento e tecnologia, mas não sabedoria.   

Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam. Em geral estamos tão atolados com o dia a dia que não sobra tempo para cultivá-la. A sabedoria deveria ser praticada desde cedo porque alguns erros que poderiam ser evitados custam caro. E de que vale aprender no final da vida como poderíamos ter vivido? 

Sinais de mudança

Futuristas costumam dizer que os sinais do futuro já estão aí. Um pequeno grupo de pessoas começa a pensar e agir de uma determinada maneira. Aos poucos, se esse movimento cria força suficiente, depois de um tempo o novo comportamento é adotado coletivamente. 

Um desses sinais pode ser percebido na Tokyo Nutrition for Growth Summit em dezembro de 2021. Neste evento, investidores como UBS e PIMCO, que administram juntas US$ 12,4 trilhões em ativos, pediram a governos e empresas que acelerem as mudanças para promover alimentos e bebidas mais saudáveis. Os investidores reivindicaram aos formuladores de políticas que usem medidas fiscais e regulatórias e que as empresas de alimentos e bebidas se comprometam a relatar anualmente as vendas geradas por produtos saudáveis. Os investidores então usariam essas informações para orientar suas decisões de investimento. Se a moda pega, e as empresas não se ajustarem, o preço da má nutrição pode vir a recair sobre aquelas que produzem alimentos nocivos à saúde. (leia a matéria abaixo)




Investors push food & drink companies, govts over 'nutrition crisis'
por Simon Jessop
Reuters
Dezembro, 2021


LONDON, Dec 7 (Reuters) - Investors managing $12.4 trillion in assets on Tuesday called for governments and companies to accelerate the shift to promoting healthier food and drink to help fix what they described as a "global nutrition crisis".

Poor-quality diets are a leading cause of death and disease and carry individual, societal and economic costs that impact the value of their holdings, 53 investors said in a pledge at the Tokyo Nutrition for Growth Summit 2021.

The investors, including PIMCO and UBS Asset Management, urged policymakers to use fiscal and regulatory measures to help support healthy packaged food and do more to meet the nutrition targets laid out by the World Health Organisation.

Chile reescreve sua constituição de olho nas mudanças climáticas

Chile Rewrites Its Constitution, Confronting Climate Change Head On

Por Somini Sengupta

NY Times

Dezembro 2021



Depois de eleger um presidente de 35 anos de idade, o Chile se prepara para reescrever sua constituição. Desta vez de olho nos impactos ambientais das mineradoras, a base da sua economia. O Chile é o segundo maior produtor de lítio, utilizado nas baterias de celulares e automóveis elétricos. No entanto, a extração desse minério causa grande impacto no ecossistema do deserto do Atacama. Como a mineração deve ser regulamentada e que voz as comunidades locais devem ter sobre a mineração? A natureza deve ter direitos? E quanto às gerações futuras? Essas são as questões sistêmicas que enfrentaremos daqui em diante. Sua empresa está preparada para o futuro que se apresenta?





Caráter é destino?

O caráter, modo se ser e agir de uma pessoa, é um assunto de grandes discussões e foi tema de reflexão do escritor Salman Rushdie ao falar sobre a construção de seus personagens.




Talvez toda a arte do romance seja baseada em algo dito pelo filósofo grego Heráclito há milênios: "o caráter do homem é o seu destino". Caráter é destino. Ele afirmou que o tipo de pessoa que você é determina o tipo de vida que você terá. Toda a arte do romance vem dessa ideia. 

Mas o que acontece quando seu caráter não é seu destino? O que acontece quando uma bomba é o seu destino? Quando o colapso econômico é o seu destino? O que acontece quando o tipo de pessoa que você é não determina a vida que você tem? Quando essas coisas aleatórias, que são exteriores à sua vida, entram para determinar e definir sua vida? Esta é uma questão, eu acho que muitos escritores agora refletem a respeito e sentem a necessidade de encontrar respostas. 

Eu quero dizer para mim mesmo quando eu escrevi meu romance Shalimar o Palhaço, estava lidando em parte ou grande parte com o fenômeno da ascensão do radicalismo islâmico. O romance se passa na Caxemira, onde o conflito entre o Estado Indiano e a Jihad se tornou extremo, por razões pelas quais se poderia em grande parte culpar o Estado Indiano. Mas eu queria entender, o que faz um jovem pegar uma arma ou uma bomba? O que torna um jovem perfeitamente normal, se transformar num assassino?

Milionários do tempo. Um novo jeito de trabalhar

Time millionaires: meet the people pursuing the pleasure of leisure
por Sirin Kale
The Guardian
Outubro/21

A Pandemia nos fez mudar hábitos e refletir sobre nossas prioridades. Algumas pessoas estão preferindo levar uma vida mais simples e gratificante. "Milionários do Tempo" são pessoas desse tipo. As mudanças coletivas começam assim, um pequeno grupo começa a fazer uma coisa diferente da maioria, aos poucos outros adeptos vão se somando. Se o grupo cresce a um determinado ponto, o novo estilo de vida se torna padrão e o outro, ultrapassado. Esse pode ser o início de uma mudança cultural de longo prazo. Adotei esse estilo de vida há uns 20 anos e garanto que vale a pena.





In every job he has ever had, Gavin has shirked. When he worked in a call centre, he would mute the phone, rather than answer it. When he worked in a pub, he would sneak out of the building and go to another pub nearby, for a pint. His best-ever job was as a civil servant. He would take an hour for breakfast, and two for lunch. No one ever said anything. All his colleagues were at it, too.

When the pandemic began, Gavin, now working as a software engineer, realised, to his inexhaustible joy, that he could get away with doing less work than he had ever dreamed of, from the comfort of his home. He would start at 8.30am and clock off about 11am. To stop his laptop from going into sleep mode – lest his employers check it for activity – Gavin played a 10-hour YouTube video of a black screen.

One might reasonably describe Gavin (not his real name) as a deadbeat. In economic terms, he is a unit of negative output. In moral terms, he is to be despised; there are antonyms for the word “grafter”, and none of them are good. In religious terms – well, few gods would smile on such indolence. But that is not how Gavin views things. “I work to pay my bills and keep a roof over my head,” he says. “I don’t see any value or purpose in work. Zero. None whatsoever.”

Gavin’s job is an unfortunate expediency that facilitates his enjoyment of the one thing that does matter to him in life: his time. “Life is short,” Gavin tells me. “I want to enjoy the time I have. We are not here for a long time. We are here for a good time.” And for now, Gavin is living the good life. He’s a time millionaire. “I am delighted,” Gavin tells me. “I could not be happier.” He is practically singing.

And his boss? “My boss is happy with the work I’m doing,” he says. “Or more accurately, the work he thinks I’m doing.”

Por que cada vez há menos pessoas dispostas a ceder aos excessos da vida profissional

por María Sanchéz Sanchéz
El País
Novembro 2021






Embora ainda seja cedo para abordar de forma categórica o rombo que a pandemia nos deixou, há algumas transformações que parecem estar ganhando forma. Elas têm a ver com o trabalho, com a reinvenção da maneira como nos organizamos e com uma constatação feita por milhões de pessoas: que outra vida profissional —mais generosa com nossa saúde física e mental— é possível.

“Vi que outra forma de trabalhar é possível e já não quero voltar a como era antes”, diz Lourdes Díaz, funcionária de uma empresa de tecnologia. “Cheguei a fazer jornadas de 10 e 11 horas no escritório, mas já não estou disposta a viver pelo —e para— o trabalho. Além disso, no meu caso, a necessidade de trabalhar de forma remota mostrou que posso realizar as tarefas e conjugar muito melhor essas obrigações com o âmbito pessoal. Agora tenho mais tempo para mim, desfruto e noto que não estou tão estressada com tudo.”

No entanto, esse burburinho nas conversas com amigos e colegas de trabalho ocorre paralelamente à percepção de muitas empresas, que defendem um “retorno à normalidade”. Um enfoque convencional que deixa trabalhadores frustrados e deprimidos pela insistência na modalidade presencial ou, no caso dos mais privilegiados, reflete-se num êxodo rumo a firmas que oferecem maior flexibilidade. Recentemente, por exemplo, as ofertas em que aparece a palavra “teletrabalho” aumentaram 214% na Espanha.

Como atravessar um deserto

Por Dado Salem
Setembro 2021

                 
                                   Pastoras da aldeia de Al Tarfa, Egito. National Geographic
                                


Parece que não há mais dúvidas de que as coisas devem piorar muito antes de começarem a melhorar. As notícias que chegam é que as mudanças climáticas são irreversíveis e a catástrofe, inevitável. 

Elizabeth Kolbert, jornalista da revista The New Yorker e vencedora do prêmio Pulitzer pelo livro A Sexta Extinção, relata que o mundo passou por cinco extinções em massa, sendo a mais famosa a que aconteceu há 65 milhões de anos quando um asteroide colidiu com o planeta e eliminou os dinossauros, entre uma série de outros animais. Atualmente, os cientistas vêm monitorando uma sexta extinção, que pode ser a mais devastadora da história, só que dessa vez a causa é o nosso estilo de vida insustentável.

O grande desafio é que mesmo se parássemos com 100% das emissões de gases de efeito estufa e passássemos a plantar florestas de forma eficiente e sistemática, os resultados práticos não apareceriam antes de algumas décadas. Esse delay entre ação e a reação do ecossistema, favorece os argumentos de políticos populistas e negacionistas fervorosos, como “provas” de que essas atitudes não trazem benefício algum, o que tenderia a fazer com que continuemos a cavar o abismo onde estamos caindo. O mais assustador é que a maioria de nós vivenciará esse colapso, porque ele já começou.

Esses dias acordei pensando nisso e num exercício de futurismo, imaginei como é viver a situação dolorosa de uma catástrofe. Apesar de não substituir a experiência, saber o que as pessoas fazem para sair dessas situações é no mínimo instrutivo. Lembrei dos Krenak, povo que continua vivendo na margem esquerda do Rio Doce, anos depois da tragédia do rompimento da barragem da Vale e não aceita sair daquele lugar. 

Ailton Krenak, possivelmente um dos mais conscientes líderes brasileiros, associa o desastre a um deserto: “Estamos dentro do desastre, ninguém precisa vir tirar a gente daqui, vamos atravessar o deserto, temos que atravessar. Ou toda vez que você vê um deserto você sai correndo? Quando aparecer um deserto, o atravesse”, diz.

A era em que podíamos cultuar o supérfluo está terminando

por José Eduardo Agualusa
O Globo
Setembro 2021

Precisamos retornar ao essencial



Durante a guerra civil em Angola, nas cidades mais atingidas pelos confrontos, conheci pessoas que dormiam com os sapatos calçados e uma pequena mochila a servir de travesseiro. Guardavam na mochila tudo o que para elas era essencial, caso tivessem de fugir de repente.

Se alguma coisa nos ensinam estes dias estranhos, perigosos e voláteis, é que chegou o momento de colocar numa mochila aquilo que considerarmos essencial. Não porque precisemos fugir — na verdade, não temos para onde fugir —, mas porque a era em que podíamos cultuar o supérfluo, o ruído e o desperdício, está terminando. Precisamos retornar ao essencial.

Mas o que é essencial? Para uns pode ser uma garrafa de bom vinho do Porto, para outros um livro, as fotografias da infância, um console de videogame, uns tênis de marca, ou um anel de prata. O essencial de uns é o supérfluo de outros.

Volto ao brevíssimo período em que fiz reportagem de guerra em Angola. Certa manhã, vi um velho camponês carregando um colchão à cabeça. Lembro-me de ter comentado, em tom de troça, com outro jornalista: “Eis alguém que valoriza a preguiça”. Voltei a ver o velho ao entardecer, carregando a mulher no colchão. Envergonhado, atormentado pelos remorsos, fui falar com ele. “Só o colchão me pesa”, disse-me o homem com um sorriso tímido. Pesava-lhe mais quando não a carregava. A mulher tirava peso do colchão. É que o amor não pesa — liberta-nos do peso das coisas.

Os 4 estágios daqueles que acham que o futuro será uma reprodução do presente

No primeiro estágio dizemos que nada vai acontecer. No segundo estágio dizemos que algo pode acontecer, mas não devemos fazer nada a respeito. No estágio três dizemos que deveríamos fazer algo a respeito, mas não há nada que podemos fazer. No estágio quatro dizemos que deveríamos ter feito algo, mas é tarde demais.

Sobre a boa vida

por Dado Salem
Setembro 2021



O que é uma vida boa? Como usar bem o tempo que tenho para viver? Quais são as coisas que preciso buscar porque são fundamentais e quais outras são secundárias ou até mesmo desnecessárias? Este questionamento existe desde os primórdios da filosofia numa discussão que frequentemente girou em torno dos conceitos de Eudaimônia e Hedonia

Na Hedonia, a felicidade e o bem-estar são obtidos por meio dos prazeres, por desfrutar as coisas boas da vida e procurar evitar a dor, os desconfortos e sofrimentos. Segundo essa visão, somos movidos pela busca de objetos de desejo, alguns naturais e necessários como casa, comida, roupas, proteção, afeto… e outros desnecessários, como luxos de todos os tipos, riqueza, glamour, cargos, poder, honras, etc.

Eudaimônia, frequentemente traduzida como felicidade, seria mais corretamente definida como florescer, pois, significa literalmente o desenvolvimento pleno do daimon, o espírito que nos habita. Equivalente ao design, que contêm um projeto, um esquema em mente, um desígnio, um propósito. Eudaimônia é cumprir seu papel no mundo, o que requer um profundo autoconhecimento. Neste caso, embora as experiências de prazer sejam fortemente positivas, não seriam um objetivo a ser buscado, mas sim um subproduto da expressão dos nossos potenciais, do melhor que existe em nós colocado a serviço da sociedade.

Com vinte e poucos anos, um tempo depois de ter saído da casa dos meus pais, comecei a me questionar que vida deveria levar. Aos poucos fui percebendo que algumas coisas que considerava importantes como, morar num bairro nobre, viajar nas férias para lugares paradisíacos, jantar em bons restaurantes, ter uma família perfeita como num comercial de margarina, trocar de carro a cada 2 ou 3 anos, ter um plano de saúde com acesso aos melhores hospitais, ou seja, viver um padrão de vida elevado, e ainda, ter distinção na sociedade, ser admirado, ter sucesso… eram na verdade parte de um modelo que eu havia aprendido a valorizar. Aprendi isso com a minha família, com meus amigos e amigas, com a nossa cultura, com a publicidade... 

Esse sistema de valores culturais, essencialmente hedonistas, na maior parte das vezes costuma dirigir nossos desejos, influenciar nossos pensamentos e definir nossas escolhas. É difícil ficar fora ou ir contra essas regras sociais explícitas ou implícitas. Aquele que transgride, que se desvia, que sai do padrão, que não segue o pensamento convencional, tende a se sentir um estrangeiro na sua própria casa e muitas vezes é criticado e atacado. Não foi diferente comigo.

Só se vive uma vez

Welcome to the YOLO Economy
por Kevin Roose
NY Times
publicado em abril, 2021


Esgotados e com dinheiro no bolso, alguns profissionais estão deixando empregos estáveis ​​em busca de aventuras pós-pandêmicas, ou pensando em largar o trabalho caso seus chefes não os permitam trabalhar quando e de onde quiserem.





Something strange is happening to the exhausted, type-A millennial workers of America. After a year spent hunched over their MacBooks, enduring back-to-back Zooms in between sourdough loaves and Peloton rides, they are flipping the carefully arranged chessboards of their lives and deciding to risk it all.

Some are abandoning cushy and stable jobs to start a new business, turn a side hustle into a full-time gig or finally work on that screenplay. Others are scoffing at their bosses’ return-to-office mandates and threatening to quit unless they’re allowed to work wherever and whenever they want.

They are emboldened by rising vaccination rates and a recovering job market. Their bank accounts, fattened by a year of stay-at-home savings and soaring asset prices, have increased their risk appetites. And while some of them are just changing jobs, others are stepping off the career treadmill altogether.

If this movement has a rallying cry, it’s “YOLO” — “you only live once,” an acronym popularized by the rapper Drake a decade ago and deployed by cheerful risk-takers ever since. The term is a meme among stock traders on Reddit, who use it when making irresponsible bets that sometimes pay off anyway. (This year’s GameStop trade was the archetypal YOLO.) More broadly, it has come to characterize the attitude that has captured a certain type of bored office worker in recent months.

Pandemia provoca revolução doméstica e cria hábitos que vieram para ficar

por Carolina Giovanelli
O Globo
Agosto 2021



Lá para o final de março do ano passado, boa parte do Brasil se viu recluso em casa por causa de um vírus recém-chegado ao país. Para quem estava acostumado a uma vida agitada, com deslocamentos rotineiros, a quebra de rotina — carregada pelo medo da pandemia — causou um choque. Aqueles que puderam se beneficiar do isolamento enfrentaram questões que partiram do tédio (já arrumei todos os meus armários, e agora?), passando pela solidão (tenho saudades dos meus amigos, e agora?) até chegar às dúvidas existenciais (acho que estou com depressão, e agora?). Depois de muitos divórcios, videochamadas, novos hobbies, sessões de terapia e uma crise sanitária que dura muito mais do que o esperado, as coisas foram se assentando. O que era compulsório ganhou tons voluntários. Parte da turma que torcia o nariz para um modo de vida mais caseiro acabou se acostumando: redescobriu o valor do lar e pretende seguir na toada doméstica.

A casa virou um palco onde os conflitos aparecem com mais frequência, pois não foi possível adiar as soluções de algumas questões internas, analisa o terapeuta Arnaldo Cheixas.

No começo fiquei meio doida, o dia todo em casa, lidar com a família, mas agora estou mais tranquila — diz a artista visual Gabrieli Gama.

Ela deixou a criatividade aflorar. Começou a fazer cliques de si mesma para treinar a fotografia, a praticar exercícios aeróbicos com vídeos no YouTube e a assar pães, este um clássico pandêmico. “Fico uns 15 minutos sovando a massa, desestressando.”

Passar a preparar a própria comida foi um dos hábitos adquiridos nesse período de transformações drásticas que vieram para ficar. O bibliotecário carioca João Marco Luz, de 29 anos, se considera um “crítico” de feijão, mas dos outros, porque nunca havia tido coragem de usar a panela de pressão para preparar o prato. Com o contrato de trabalho suspenso, João, que sabia “no máximo fazer um macarrão”, aproveitou o tempo livre para se aventurar na cozinha. O feijão saiu saboroso. Depois, o rapaz se arriscou na picanha na cerveja, no peixe de forno...

Os Poetas e a Leitura da Realidade

por Dado Salem


“Só é poeta o homem que possui a faculdade de ver os seres espirituais que vivem e brincam em torno dele.” Nietzsche


                                          vista da cabana de Wittgenstein em Skjolden, Noroega

O estudo comparado de mitos indica que houve, logo após a pré-história, uma visão ética comum em toda a humanidade: O ser humano era considerado um microcosmo e deveria viver em harmonia com o macrocosmo.

 

A consciência dava ao ser humano a possibilidade de perceber a beleza da natureza e do sistema em que estava inserido. Tudo era uma coisa só, tudo estava interconectado. Nada escapava à imensa rede da vida, da qual o homem era apenas um fio. Tudo o que fizesse a esse tecido faria a si mesmo. A consciência diferenciava o homem dos outros seres, mas também dava a ele uma missão: ser o mantenedor, o guardião disso para as gerações seguintes. O ser humano não era dono da terra, ele fazia parte dela, não devia portanto explorar ou mandar na natureza, mas sim respeitá-la, reverenciá-la, aprender com ela para viver bem e em harmonia com os outros seres. O canto e a dança faziam parte do banquete que os homens ofereciam aos deuses para celebrarem a vida, que era considerada uma dádiva.

 

No entanto, o poder da consciência também nos oferecia a possibilidade de agirmos como substitutos de Deus ou, de viver de acordo com nossos interesses específicos e particulares. Essa pretensão era considerada em muitas tradições como a decadência do homem, pois isso significaria uma desarmonia do equilíbrio cósmico, um rompimento com as potências que regem o Universo e a nós mesmos, representadas pelas divindades e arquétipos.

 

No Egito antigo, no Oriente, nas tribos africanas e em todos povos e civilizações pré-Colombianas, os líderes eram seres humanos com uma cosmovisão, uma consciência superior que lhes dava a capacidade de ler e interpretar a ordem que agia como “pano de fundo” da vida. A função deles era transmitir essa visão de mundo para a sociedade e procurar fazer com que todos vivessem de acordo com essas Leis não escritas porque, tudo o que prosperava ou fracassava estava ligado à obediência ou infração delas. Sem essa cosmovisão as coisas tendiam a não ir tão bem. 

Vida Simples


Por volta dos 30 anos de idade optei por uma vida simples, tranquila e saudável, viver com o essencial e dedicar meu tempo a fazer as coisas que me pareciam significativas. As vilas operárias surgiram como locais ideais para morar nos grandes centros. Elas tem as vantagens de uma casa mas não as desvantagens. Há uma vida comunitária natural e genuína, um espírito inclusivo, diferente dos condomínios fortificados e exclusivos.

Esta casa compramos em 2005 no bairro do Horto no Rio de Janeiro, em frente ao Jardim Botânico. Na época era uma região desvalorizada, utilizada como cenário para filmar os núcleos pobres de novelas. Hoje é um dos locais mais valorizados da cidade, pois está dentro e ao mesmo tempo fora da agitação dela. Francisco aprendeu a andar de bicicleta e jogar futebol na rua. 

Este vídeo retrata um pouco esse estilo de vida.  





 

O Cuidado de Si – A Hermenêutica do Sujeito

Por Dado Salem
Julho 2021


O cuidado de si, a arte de viver uma vida significativa, foi tema de um ciclo de palestras de Michael Foucault em Paris em 1982.



Se um gênio aparecesse agora na minha frente e oferecesse a possibilidade de fazer uma viagem no tempo, eu escolheria ir para quarta-feira, dia 6 de janeiro de 1982 em Paris e ficar por lá até 24 de março. Foi quando aconteceram as 12 conferências de Michel Foucault no College de France chamadas Hermenêutica do Sujeito.

Como parte de seu contrato com esta instituição, Foucault tinha que apresentar todos os anos o resultado de seus estudos por meio de 26 horas de aulas abertas. Num anfiteatro para 300 pessoas, se amontoavam cerca de 500 estudantes, professores, curiosos e pesquisadores, que vinham de vários países para ouvir o filósofo. Ao entrar na sala, Foucault, como um acrobata, precisava saltar por cima das pessoas para chegar à mesa, onde ainda teria que abrir espaço entre dezenas de gravadores dos estudantes, para ajeitar suas coisas e organizar seus papéis. Foucault reclamava da situação e da pouca possibilidade de troca com a plateia por conta do formato estabelecido para a conferência. 

O que ele apresentava nessas palestras era um esboço do que depois seria transformado em livro. Neste caso, o conteúdo foi resumido num capítulo do livro O cuidado de si.

Por trás do título enigmático Hermenêutica do Sujeito, Foucault abordou um tema fundamental na antiguidade clássica: o autoconhecimento, traduzido pela famosa frase "conhece a ti mesmo". O filósofo se concentrou principalmente nas práticas que uma pessoa deveria adotar no seu cotidiano para atingir esse objetivo e desenvolver seus potenciais.

Maestria - a arte de se tornar ninguém

por Dado Salem
Junho 2021

Tenho o hábito de escrever para mim mesmo coisas que acho importante lembrar. Releio com alguma frequência para não esquecer. Esse texto escrevi pensando no meu trabalho como facilitador de diálogos e orientador de carreiras. Compartilho porque acho que pode ser útil. 



A maestria é fruto de um longo caminho, uma busca eterna e não é aprendida facilmente.

Há que se render, se entregar ao ofício como um artesão. Se seu objetivo for ganhar dinheiro, então não trilhe este caminho. Existem opções mais lucrativas. Mas se quiser buscar a maestria, aprenda a ter uma vida simples.

É preciso acalmar a mente, deixar de lado os medos e o desejo de sucesso. Uma mente inquieta impede o estado de espírito necessário. Deixe os pensamentos e sentimentos aflorarem, não os reprima, apenas os observe.

Observe e ouça atentamente os seus mestres. Se concentre em fazer bem feito, na vontade de sempre estudar e aprender. Se concentre também na perseverança, porque a jornada é longa, árdua e não faltarão ocasiões para você desistir. Muitos abandonam no meio do caminho. Nem todos têm a disciplina e a força de caráter necessárias para continuar.

O vira-latas e a revolução da Sociedade em Rede

Por Dado Salem
Junho 2021



O vira-latas é o canivete suiço dos cachorros, pau pra toda obra, jack of all trades como dizem os norte-americanos. Criados na natureza urbana, são os lobos do asfalto. De fome não morrem. Sua natureza versátil, múltipla, os faz saber exatamente onde encontrar o que precisam e se reproduzem a valer. A adaptabilidade os torna capazes de sobreviver em realidades distintas.

Em contrapartida, os cães de raça – especialistas em determinadas funções – costumam ser caros, dependentes e ter saúde mais frágil. Isso significa que, se forem tirados de seu ambiente protegido e previsível, se não recuperam sua natureza essencial, é improvável que sobrevivam.

Na transição da Sociedade Industrial, estável e conhecida, para o mundo incerto e cambiante da Sociedade em Rede, diplomas e especializações têm a mesma utilidade que um pedigree para um cão de raça que foi abandonado pelo seu dono e posto na rua.

Na Sociedade em Rede estamos sempre em contato com coisas que não temos domínio. Quando nos apropriamos de um ambiente e achamos que estamos no controle, é justamente quando não podemos relaxar, porque o que é tendência agora, amanhã já está velho. Não há garantia de que o que está funcionando continuará. São várias redes com linguagens diferentes que estão aparecendo… e morrendo. É tudo muito rápido, instável, volátil. A cada dia há uma oportunidade diferente ou nova. 

Escrevendo um currículo

Já escrevi uma centena de currículos com meus clientes. Uma das maiores dificuldades é a linguagem corporativa. Ela consegue tirar toda riqueza e personalidade de um indivíduo, aquilo que o torna quem é. O achatamento do caráter numa folha de papel. Nada mais duro, frio e sem vida que um currículo. É uma pena que essa característica ultrapassada da Sociedade Industrial, que procura encaixotar as pessoas, ainda perdure nas empresas e até mesmo naquelas que se dizem inovadoras. Funciona bem para descrever máquinas, não pessoas.  

A poetisa e ensaísta polonesa Wislawa Szymborska, vencedora do prêmio Nobel de Literatura, captou isso bem no poema que chamou de Escrevendo um currículo.




Escrevendo um currículo
Por Wislawa Szymborska


O que precisa ser feito?
Preencher a ficha de inscrição
e anexar um currículo.

Mesmo que a vida seja longa
o currículo tem que ser curto.

Obrigatória a concisão e seleção dos fatos.
As paisagens são substituídas por endereços,
memórias trêmulas dão lugar a datas inabaláveis.

De todos os seus amores mencione apenas o casamento,
de todos os seus filhos, apenas aqueles que nasceram.

Quem conhece você conta mais do que quem você conhece.
Viagens somente se forem feitas no exterior.
Associações em quê, mas sem por quê.
Honras, mas não como foram conquistadas.

Os 4 atos das Pandemias

Por Dado Salem
Abril 2021



Segundo o historiador da medicina Charles Rosenberg*, epidemias costumam ter quatro Atos, como numa peça de teatro.

No primeiro Ato, que ele chamou de Revelação Progressiva, empresários, comerciantes, politicos e a população em geral relutam em reconhecer a situação por conta da ameaça aos seus interesses e do modo de vida que não gostariam de mudar. O reconhecimento, embora relutante, acaba vindo gradualmente por conta das doenças e do número inegável de mortos. 

O segundo Ato ele nomeou de Gerenciando a Aleatoridade. Trata-se da busca de um acordo coletivo para gerenciar a realidade desanimadora da epidemia. O objetivo é identificar fatores de risco e mudar o comportamento, o estilo de vida. Trata-se de construir uma base lógica para enfrentar o problema. Fechamos o comércio? Deixamos abertas as igrejas? O que fazer com as escolas? Tornamos obrigatório o uso de mascaras? O que dizem os especialistas? Quais são os métodos eficazes de combate à doença? 

O maior erro da história da humanidade

The Worst Mistake in the History of the Human Race
por Jared Diamond
Discover Magazine
1999


O discurso científico dominante diz que evoluímos de uma vida selvagem e bárbara numa natureza hostil, até atingirmos a civilização. 

Mas se ouvirmos os poucos grupos que ainda vivem como caçadores coletores eles nos dizem que nunca existiu a idéia de lugar selvagem na natureza, que a natureza não é perigosa, mas hospitaleira e não é ameaçadora, mas amistosa. E pelo contrário, como uma grande mãe, ela oferece tudo o que precisamos. 

Na passagem da Sociedade Tribal para Sociedade Agrícola o ser humano deixou de pertencer à Terra e a terra passou a pertencer ao ser humano. Essa foi uma das maiores mudanças culturais da nossa história. Textos antigos retratam esse acontecimento como a Queda do Paraíso, quando começamos a ter que trabalhar e tirar o sustento do suor do nosso próprio rosto. 

Jared Diamond, geografo, antropólogo, historiador, ornitólogo e professor da UCLA escreveu esse artigo provocador trazendo evidências de que abandonar o estilo de vida tribal foi um grande divisor de águas e talvez o maior erro da humanidade. 




To science we owe dramatic changes in our smug self-image. Astronomy taught us that our earth isn't the center of the universe but merely one of billions of heavenly bodies. From biology we learned that we weren't specially created by God but evolved along with millions of other species. Now archaeology is demolishing another sacred belief: that human history over the past million years has been a long tale of progress. In particular, recent discoveries suggest that the adoption of agriculture, supposedly our most decisive step toward a better life, was in many ways a catastrophe from which we have never recovered. With agriculture came the gross social and sexual inequality, the disease and despotism, that curse our existence. At first, the evidence against this revisionist interpretation will strike twentieth century Americans as irrefutable. We're better off in almost every respect than people of the Middle Ages, who in turn had it easier than cavemen, who in turn were better off than apes. Just count our advantages. We enjoy the most abundant and varied foods, the best tools and material goods, some of the longest and healthiest lives, in history. Most of us are safe from starvation and predators. We get our energy from oil and machines, not from our sweat. What neo-Luddite among us would trade his life for that of a medieval peasant, a caveman, or an ape?

Home office e a globalização do trabalho

Por Simon Kuper
Financial Times
Março 2021


“Se você pode fazer seu trabalho de qualquer lugar, alguém de qualquer lugar pode fazer seu trabalho.”



A Canadian I know has just started work at a bank in the US. He won’t have to move: he’ll work from home in Toronto and keep paying Canadian taxes. He will earn less than he would in the US, but more than in Canada.

An entrepreneur I know in Paris is recruiting staff in the same spirit. After the pandemic hit, he closed his office and laid off many employees. Now he hires graphic designers in South Africa instead of Paris, getting more experienced people at half the price. He won’t go back to recruiting Parisians.


There has been endless talk of remote workers moving from New York or London to Florida or Sussex. In fact, something more radical is happening: high-skilled jobs are being offshored out of superstar cities to the rest of the world. Like so many changes in this pandemic, what began as an emergency response may solidify into permanence.


The trend towards global remote work predated Covid-19, especially in tech. Companies in Silicon Valley and New York, looking for cheap top-class talent, created teams of developers in India and, later, in Latin America. Then, when the virus prompted mass homeworking, people in all sorts of highly paid professions seized the opportunity to offshore themselves. Again, the effect was probably strongest in tech, where most jobs can be done remotely and the workforce is global: about 71 per cent of tech employees in Silicon Valley were foreign-born, calculated The Seattle Times in 2018.


Australians, New Zealanders and Irish people were among those who brought their jobs home in the pandemic. Countries from Barbados to Estonia created visas to lure remote workers.